SEGUNDO CIENTISTAS: A busca pelo
"elo perdido", o primeiro Homo sapiens a
habitar a Terra, aponta a região do altiplano do leste africano como sendo o
berço da humanidade. "A região onde hoje está o Quênia e a Etiópia foi o
cenário do que se costuma chamar de 'processo de hominização', isto é, como um
ramo de antropóides superiores evoluiu até chegar ao gênero Homo e à espécie
sapiens, que somos nós, ao longo de cerca de 6 milhões de anos", diz o
doutor em arqueologia e professor da USP Paulo DeBlasis. "Todos os
registros fósseis mais antigos, tanto culturais, como artefatos de pedra, como
biológicos, provêm de lá, onde condições geológicas peculiares possibilitaram
sua preservação", explica.
Mas, se os
vestígios apontam para a África como o berço da espécie, quando e por que o ser
humano deixou o continente? Para DeBlasis a resposta para a segunda pergunta
tem a ver com a própria evolução do homem.
"(O homem
deixou a África) devido a características evolutivas muito eficientes, como o
desenvolvimento do polegar opositor, o bipedismo, uma maior capacidade mental e
a habilidade de fazer e usar objetos para alcançar seus objetivos, entre
outras, os ancestrais do homem tiveram grande sucesso adaptativo e se
expandiram demograficamente, conquistando desta forma, de maneira progressiva,
novos territórios. A espécie sapiens foi, certamente, a que mais se expandiu,
alcançando os índices demográficos que vemos hoje e os mais recônditos rincões
do planeta, inclusive a Antártida".
O professor Levy
Figuti, também da USP, tem uma opinião bem parecida. "A propagação da
espécie humana pode ser associada a uma alta capacidade adaptativa derivada da
capacidade criativa em criar implementos que permitiram se proteger dos rigores
do meio ambiente e acessar as mais variadas fontes de alimentação".
Enquanto o local de
surgimento do homem parece ser unanimidade entre os cientistas, o que se
questiona agora é quando ele teria saído da África para ocupar outras regiões.
A teoria vigente é que os primeiros humanos teriam migrado pela costa da
África, em direção à do mar Mediterrâneo, por volta de 60 mil anos atrás. Mas
um trabalho publicado recentemente na revista americana Science argumenta que essa migração pode ter
acontecido de 100 mil a 125 mil anos, na península arábica. Segundo o estudo,
os Homo sapiens teriam chegado ao local a partir do
Chifre da África, já que naquela época o nível do mar era bem mais baixo.
A teoria, proposta
por uma equipe internacional de pesquisadores, baseia-se em um conjunto de
ferramentas encontrado no sítio arqueológico de Jebel Faya. Entre os artefatos
destacam-se sílex talhados em ambos os lados para cortar ou cavar, machados sem
empunhadura e raspadeiras.
Para os cientistas,
a descoberta significa que o homem evoluiu na África há cerca de 200 mil anos
e, a partir daí, começou a colonizar o resto do mundo. "Isso estimula uma
nova avaliação sobre as formas pelas quais os homens modernos tornaram-se uma
espécie global. Os donos das ferramentas encontradas em Jebel Faya eram
anatomicamente iguais a você e a mim", disse o pesquisador que encontrou
os artefatos, Simon Armitage, da Universidade de Londres. "Entender a
evolução humana requer não apenas a documentação do aparecimento de novas
espécies, mas também entender onde nossos ancestrais estavam e para onde foram.
Isso é crítico para a compreensão da ecologia humana, do nosso impacto no meio
ambiente e das raízes sociais e culturais", completou.
Para Paulo
deBlasis, as evidências encontradas no leste da África não excluem outras
regiões onde a hominização possa ter ocorrido, mas ainda assim, demais
possibilidades se limitam a localidades próximas. "Não significa que
necessariamente todo o processo ocorreu apenas ali. A evolução humana antiga
pode ter ocorrido também em regiões próximas, como a área hoje desértica do Saara
ou a zona equatorial da África central, onde o ambiente se transformou muito no
período e as condições de preservação são muito menores", argumenta.
VÍDEO AULA: POPULAÇÃO MUNDIAL
MAPEAMENTO DA ROTA DO HOMEM NA TERRA
SAIBA MAIS: